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Can​ç​õ​es n​ã​o

by Oliveira

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1.
a cidade cidade cidad /a/ /sid´ adi/ /sid´ adi/ /sid´ a/ aos cadáveres que cochilam perfumados numa ponte de ferro que quebrou ao meio crianças lavam o sangue das que não sabem nadar uma torre de ferragens flutua no céu as fotografias dos helicópteros capturam as ferrugens que inundam as roupas brancas [com uma nódoa de impossível remoção a não ser que cavalarias a não ser que tropas removam os corpos linha reta, som coturno, estampido, perder de vista corpo quente, mancha removida no inchaço da mulher que respira gás lacrimogênio gira a roleta-russa e vê no que dá talvez role jornal da manhã ou meio-dia eles é que sabem
2.
daninha 03:57
há de ser uma flor no bairro escuro sangra, salta e crê acabou de vento como faz, meu bem nascer a terra chorou no dia claro calma, espera e vê luzes, luz o sol mais que brilhe quer morrer ela despertou revolta daninha flor faz crias, invade terrenos espécie, poesia das vozes uma espécie poesia das vozes (quem é)
3.
hoje na minha boca não cabem girassóis cabe um poemapodre cheiro de mangue capibaribe um poemaponte galeria esgoto chuvas de abril um poemacidade fumaça ferrugem fuligem hoje na minha boca cabe apenas o poema o poema hóspede da agonia [era um corpo eram dois juntos formavam quase três tinha um quarto tinha um quinto dentro do metro outros seis] como eu móvel aqui no chão corte corte faca fúria seta cego foice dente rua verso corte faca cega dente mole pedra sangra salto fundo corte faca olho puro golpe fundo fundo corte galo canta rádio faca corte luta branca arma branca pé mão olho bucho vento corte faca cego tátil [óbvio óbvio como eu móvel aqui no chão acima sons de poeira de fora janela chinelo garganta polegares fresta gradação cores -metria geocorpo presenças que se movem (cabe muita gente nesse chão m²) cão corpo de gente cara pombo asa de puta pele de porco som de zumbido grunhido de mãe cantiga absurda rangido bomba caseira ferrugem planta passeios que se repetem [lá fora o animal que envelhece como eu móvel aqui no chão longe do céu tudo é chão na acidente do recife a cidade [geográfico
4.
mãe 03:27
mãe inha tá tudo escuro aqui a lama derrubou a tevê da sala quebrou, mãe inha chore não ai, pai inho o lobo derrubou a porta e as paredes de casa quarto, sala, cozinha, banheiro tá tudo espalhado em cima de mim ai, inha, inho se encontrar as velas nessa bagunça acende uma estória tá quase escuro dentro de mim
5.
não há 03:39
são vozes do norte sul o tempo do mar virou a pedra de sal exposta ao sol o céu calor mamãe me cantou dormiu sonhado vivi no país fantasma há golpes de faca dentro de mim tua dor me desarmou tua casa escureceu olha a água da neném a neném não quer morrer é roubaram o meu sol (comeram) mataram o meu sol (calaram) avisa o que é que é "ê cadê sol cadê nenhum sol cadê ê cadê luz cadê não há luz não há não há"
6.
escuro/vazio 03:35
senhor do escuro, más notícias as cidades com seus nervos tropeçavam sobre os homens esmagando a si mesmas pernas, sonhos, tortos filhos, casa, portos tenhas medo a paisagem e o deserto movem-se por dentro saem pela rua encontram o palco todos sobem falam contra o vento mas tu, segues tropeçando sobre um jovem vagabundo cê me acolhe na noite como a um cão cantam, berram, picham, riem alto voltam todos vivos para o centro mas tu, queres construir um novo mundo vês como o céu está às mãos canções não são bênçãos quando oprimem ouvir os velhos inda me comove o solitário erra o seu caminho estou tentado a quebrar o teu coração que vazio é esse que não queres soterrar
7.
komatsu é uma máquina komatsu é uma grande máquina amarela komatsu desterrou famílias komatsu remexeu na terra komatsu passou por cima komatsu atravessou o velho komatsu destruiu o antigo komatsu inventou o novo komatsu é um senhor nervoso komatsu não escuta as vozes komatsu não compreende o choro komatsu indenizou a todos komatsu só quer trabalhar komatsu é como a lei da vida komatsu não desconhece a morte komatsu é um leão faminto komatsu é o leão do norte de longe se vê, komatsu como uma assombração que se arvora sobre nós gerônimos, verônicas, manoéis, severinas enraizados de pés e histórias da terra descobertos pelo medo que vibra sua morada de paredes frágeis na casa que sangrou primeiro espalhou sobre o chão suas vísceras de areia entulhos cor de cinza, peles cor de rubro amputadas as pernas, os braços, as vozes choraram gerônimos, verônicas, manoéis, morreram severinas as nossas próprias sombrações entulhadas no que sobrou da casa que morreu e ainda permanece, como nós, de pé ranhuras dos dedos cravam as unhas no pedaço de terra que é ilha e é chão como as pedras trôpegas que rolam sem ter nunca um canto de seu pra poder descansar
8.
geografia 02:16
geografia: lugar- território inaudito pás de escavar memória removem os corpos sensíveis perfurações no solo descobrem experiências invisíveis, visíveis, turvas, esmaecidas a mortalha envolta com embrulhos de jornal por mãos de escritoras pelo movimento dos barcos deslizam as periferias, marginais, penumbras na escritura quente de uma mulher negra para a luz elétrica das gráficas dos bairros centrais as histórias acordam os mortos-vivos os santos soldados enrijecem seus paus as meninas se movem entre fodas, escarros e vulvas a cavalaria desmembra estatísticas enquanto no cais do porto a carne mais barata do mercado é a carne negra negra,
9.
música 03:29
pela música que fratura o mundo cantar, cantar os ossos desmembrados contar a quinquilharia esparramada no chão, diante dos mais velhos de casas horizontais e poeira pó, pigarro, falta de ar lágrima, videoteipe a música da poesia a poesia da música cercados, circulações, fins do mundo, galáxias canção descalçada peito aberto ó "Ó cidade faminta! Alimentando-se de letras de canções Ó Como um cego no seu nó Nunca sei o que é que há Quem é meu, onde é que eu tô Fui parar num bairro líquido Onde a chuva sem ser sonho Foi subindo até o pescoço E afogou cada pedaço Ó Para mim é dia claro E eu tirava fora um olho Sem trair minha visão Ó cidade faminta! Alimentando-se de letras de canções O sol explode na cidade A máquina sonha Helena, os prédios também morrem Helena, prédios também transpiram Helena, prédios também escarram E a cidade é o centro do cerco"
10.
cidad 04:13
de longe se vê e é tão natural se tua casa é um chão de medo te ouvir não faz mal a casa sangrou primeiro posso sofrer, posso chorar nem sempre se crê lutar é banal toma o teu lugar-desterro calar é normal a corda quebrou no meio posso morrer, posso matar a cidade me encantou, amor avenida me encantou, amor o passeio me encantou, amor o que cerca me encantou, amor ó cidad cidad cidad cidad dá dor dói ó cidad cidad se dor se dói

about

Oliveira é o nome artístico do poeta e crítico Carlos Gomes (Recife, 1981), que lançou em 2019 a obra "Canções não", formada por livro de poemas, espetáculo e disco. O álbum "Canções não" é o primeiro de Oliveira, lançado de forma independente apenas em formato virtual.

credits

released August 24, 2019

canções não, Oliveira

Direção artística por Oliveira
Direção musical por Hugo Linns

Gravado no Estúdio Carranca por Vinicius Barros Aquino
Mixado e masterizado por Vinicius Barros Aquino

voz, violão de aço, poemas* e canções por Oliveira
viola dinâmica, programação e arranjos por Hugo Linns
baixo acústico por Rogê Victor

*exceto “urbe”, poema de Cida Pedrosa musicado por Oliveira

participação especial de Jomard Muniz de Britto, Nathalia Queiroz e Philippe Wollney

orientação vocal por Carlos Ferrera
foto de capa e divulgação por Eric Gomes
Capa e projeto gráfico por Fernanda Maia

canções não é uma obra que inclui livro, disco e espetáculo
O livro foi incentivado pelo edital do Funcultura, Governo do Estado de Pernambuco

site: carlosgomes.art.br/categoria/musica/oliveira/
contato: oliveirafilhocg@gmail.com

Recife, 2019

license

all rights reserved

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about

Oliveira PE, Brazil

Oliveira lançou em 2019 a obra "Canções não", formada por livro de poemas, espetáculo e disco.

Em 2024 lançou o álbum "Teu nome vem de longe", com artistas de Recife, Brejão, Goiana, de Pernambuco, e São Paulo/SP.

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